Para compreender as variações linguísticas, é importante estabelecer as diferenças entre a gramática normativa e a internalizada.
A gramática normativa é aquela que tem como referência os usos tradicionais da língua, descrevendo as normas e orientando os falantes sobre como utilizá-las. É aplicada em situações que exigem um certo grau de formalidade.
Por outro lado, dizemos que uma construção é agramatical quando ela não obedece as regras próprias de organização do idioma.
Exemplo:
Pessoal, o que ocês tá querenu?
A gramática internalizada mostra como a língua funciona na prática entre os falantes do idioma. Nesse caso, a frase “O que ocês tá querenu.”, embora desconsidere as regras estabelecidas pela gramática normativa, pode ser considerada certa pelas perspectivas da gramática internalizada pois nesse exemplo ocorre a compreensão do que foi dito.
Variedades linguísticas
A variedade padrão, também conhecida como língua padrão ou língua culta formal é baseadas nas regras da gramática normativa e empregada em situações específicas de formalidade como na publicação de livros, relatórios, documentos oficiais e em situações sociais como palestras, discursos e entrevistas de emprego. É considerada a língua de maior prestígio devido ao seu vocabulário mais refinado e sofisticado.
Exemplos:
Entrem e sentem-se. A nossa palestra começará dentro de alguns minutos.
Com licença, posso interrompê-los por um instante? O que tenho para tratar com vocês é da máxima urgência.
A variedade não padrão ou língua informal é aquela que segue o padrão coloquial ou coloquial-popular. É a mais difundida e usada pela maioria das pessoas em suas relações sociais do cotidiano. Caracteriza-se pela despreocupação em seguir normas rígidas e admite expressões populares como a gíria e os neologismos, por exemplo. É a forma espontânea de comunicação que usamos diariamente com os nossos familiares, amigos e vizinhos.
Exemplos:
Cara, você tá meio desligado desde ontem. Tá tudo bem?
Amiga, dê um tempo no celular e pegue firme nos estudos! As provas já estão aí.
A língua é uma unidade viva e, por isso, está em constante transformação. As modificações sofridas por ela devem-se à influência dos próprios falantes que têm a total autonomia para criar novas palavras e assimilar outras provenientes dos mais variados idiomas.
A partir do momento em que a nova palavra é criada, é imprescindível que ela seja compreendida, aceita e utilizada pelos demais falantes.
Quando isso ocorre, ela passa a integrar o vasto vocabulário que compõe o léxico da língua.
É preciso então, levar em consideração que a autonomia dos falantes possibilita também a adaptação do uso da língua de acordo com as mais diversas situações.
As variações linguísticas tornam o idioma mais dinâmico e facilitam a comunicação, principalmente no que se refere a determinados grupos sociais.
Falando de uma forma simplificada, percebe-se na língua portuguesa, a existência de 4 tipos distintos de variação linguística:
Variação sociocultural:
Relaciona-se ao grau de escolaridade, ao sexo, à idade, à profissão, ao grupo social que o falante pertence.
Exemplo:
Mamãe, eu não quero soninho. (reproduzindo a fala de uma criança pequena.
Variação situacional:
É o tipo de variação que é influenciada pela situação em que ocorre.
Há uma maneira de falar que é utilizada no trabalho, por exemplo, e outra que é utilizada entre amigos ou família.
Ocorre aqui a alteração no nível de formalidade ou informalidade.
Exemplos:
A testemunha nada tem a declarar. (Fala de um advogado adequada no exercício de sua função.)
Cara, bora marcar um churrasco para o fim de semana. Vamos reunir a galera! (situação informal entre amigos que permite a total liberdade de expressão.)
Variação histórica:
Como foi mencionado no início, a língua é uma unidade viva e se modifica com o passar do tempo. Portanto, não se fala hoje em dia da mesma forma como se falava no passado.
Exemplos:
Logrando estou, senhora, um brando riso
Daquela doce boca e vista pura
Ua rara beleza, ua figura
Que me faz ver na terra o paraiso.
(Soneto de Duarte Dias, do século XVI)
Variação geográfica:
A língua pode variar também de acordo com cada região.
Pode ser com um sotaque ou uma pronúncia diferente, como pode ser facilmente verificado entre as falas dos mineiros, dos gaúchos e dos cariocas, por exemplo, ou com a utilização de palavras diferentes que possuem o mesmo significado.
Exemplos:
Tenho dois filhos: um piá e uma menina. (típica fala do paranaense)
Tenho dois filhos: um menino e uma menina. (típica fala do carioca)
Aqui, percebe-se também a evidente diferença entre o português do Brasil e de Portugal:
Exemplos:
Telemóvel (celular em Portugal)
Camisola (blusa em Portugal)
Vale ressaltar que é preciso respeitar a maneira de falar dos outros grupos sociais, diferentes dos nossos.
Não existe nenhum grupo que seja superior ou inferior a outro, eles são apenas diferentes entre si.
Julgar as pessoas de acordo com a sua forma de se comunicar é uma forma de preconceito linguístico, que deve ser evitada a todo custo.
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