O Parnasianismo no Brasil

O PARNASIANISMO - O Parnasianismo no  Brasil
O Parnasianismo surgiu no Brasil na segunda metade do século XIX. Essa escola literária foi contemporânea ao Realismo e ao Naturalismo. 
O nome Parnasianismo surgiu na França e deriva-se do termo “parnaso”, que, na mitologia grega, remete-se ao monte do deus Apolo e das deusas da poesia. 

 

 

O Parnasianismo surgiu em oposição ao Romantismo pois representava a valorização da ciência e do positivismo, estabelecendo assim, uma forte oposição ao sentimentalismo tão característico dos poetas românticos. 

 

Características do Parnasianismo 

O principal objetivo dessa escola literária era retomar a cultura da antiguidade clássica através de seus valores estéticos. Seu lema era “arte pela arte”, ou seja, a poesia era caracterizada e valorizada pela sua forma. 

 

Arte pela arte 

Os poetas buscavam obter a perfeição na poesia através da forma. A beleza da poesia justificava-se por ela mesma, não havendo portanto, nenhum outro objetivo. 

 

Preciosismo 

O foco dos autores estava voltado para os detalhes, o que justificava a valorização das rimas ricas e das palavras raras, cultas e precisas. 

 

Objetividade 

Os temas eram abordados com objetividade, deixando-se de lado o sentimentalismo e a subjetividade do poeta. Percebe-se, nesse aspecto, uma forte oposição ao sentimentalismo exagerado característico do Romantismo. 

 

Culto à forma 

A valorização exagerada da forma explica a preferência pelos sonetos (duas estrofes de 4 versos e duas estrofes de 3 versos cada) como estrutura utilizada pelos poetas. A metrificação rigorosa adotava o mesmo número de sílabas poéticas em cada verso. 

 

Descritivismo 

A descrição visual era bem detalhada e baseada em cenas ou em objetos inertes como, por exemplo, vasos e estátuas. Outros temas abordados eram os fatos históricos, a mitologia grega e a cultura clássica, sempre descritos com o máximo de objetividade

 

Hipérbato 

Percebe-se neste período, uma forte tendência ao uso do hipérbato como figura de linguagem que estiliza ainda mais os textos parnasianos. 

 

Principais autores do Parnasianismo brasileiro 

 

Teófilo Dias (1854- 1889) 

Teófilo Odorico Dias de Mesquita, considerado o precursor do Parnasianismo no Brasil, foi poeta, professor, advogado e jornalista. 
Escreveu as obras: Fanfarras (1882) , Flores e Amores (1874), Cantos Tropicais (1878), Lira dos Verdes Anos (1878) e A Comédia dos Deuses (1888). 

 

” No espaço, em cada ser, que um centro atraia e prenda, 
Há sempre o despontar que uma asa, que o suspenda. 
Ascender! ascender! — dizem todas as cousas, 
As estrelas nos céus, os vermes sob as lousas. 

 

É o hino, que tudo, em sôfregos suspiros, 
Canta: — férvida a fonte, em sinuosos giros, 
Sobre pedras quebrando o trépido carinho, 
A ave, inquieta e meiga, em volta do seu ninho, 

 

O ninho sob o ramo, o ramo sob as flores, 
As flores no perfume, — e a gruta nos vapores 
Que em frouxas espirais as amplidões alteia. 

 

A vida não se esgota, e vai perpetuamente 
Do esboço às perfeições, harmônica, ascendente.” 

 

Fanfarras 

 

Olavo Bilac (1865-1918) 

Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac, conhecido como príncipe dos poetas brasileiros, é considerado um dos principais poetas parnasianos. Além de poeta, foi jornalista e tradutor. 

 

Outro aspecto que merece destaque é que ele foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. 

 

Ele valorizava a linguagem clássica com conteúdos históricos e patrióticos. Seguindo a linha nacionalista, o poeta escreveu o Hino à Bandeira. Além disso, Bilac era conhecido também pela atenção dada à literatura infantil. 

 

Suas obras de destaque são: Poesias (1888) , Contos e Novelas (1894) , Crítica e Fantasia (1904), Conferências Literárias (1906), Tratado de Versificação (1910) , Dicionário de Rimas (1913), Ironia e Piedade (1916) e Tarde (1919). 

 

” XIX 
Sai a passeio, mal o dia nasce, 
Bela, nas simples roupas vaporosas; 
E mostra às rosas do jardim as rosas 
Frescas e puras que possui na face. 

 

Passa. E todo o jardim, por que ela passe, 
Atavia-se. Há falas misteriosas 
Pelas moitas, saudando-a respeitosas… 
É como se uma sílfide passasse! 

 

E a luz cerca-a, beijando-a. O vento é um choro… 
Curvam-se as flores trêmulas… O bando 
Das aves todas vem saudá-la em coro… 

 

E ela vai, dando ao sol o rosto brando, 
Às aves dando o olhar, ao vento o louro 
Cabelo, e às flores os sorrisos dando..” 

 

Via Láctea 

 

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo, 
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…

 

E conversamos toda a noite,
enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

 

Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido 
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

 

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e e de entender estrelas”. 

 

Ouvir Estrelas 

 

Alberto de Oliveira (1857-1937) 

Antônio Mariano de Oliveira, que adotou o pseudônimo de Alberto de Oliveira, foi poeta, professor, farmacêutico e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. 

 

Suas obras de destaque são: Canções Românticas (1878), Meridionais (1884), Sonetos e Poemas (1895), Versos e Rimas (1895), Poesias (1900), Céu, Terra e Mar (1914) e o O Culto da Forma na Poesia Brasileira (1916). 

 

” Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado. 

 

Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio. 

 

Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?… de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura. 

 

Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.” 

 

Vaso Chinês 

 

Raimundo Correia (1859 – 1911) 

O poeta Raimundo da Motta de Azevedo Corrêa foi juiz e um dos fundadores do Sodalício Brasileiro. 

 

As obras que merecem destaque são: Sinfonias (1883), Versos e Versões (1887), Aleluias (1891) e Poesias (1898). 

 

” Vai-se a primeira pomba despertada…
Vai-se outra mais… mais outra… enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada… 

 

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada… 

 

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais; 

 

No azul da adolescência as asas soltam, 
Fogem… Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais…” 

 

As Pombas 

 

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

 

Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

 

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo
Como invisível chaga cancerosa!

 

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja aventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa! 

 

Mal Secreto 

 

Francisca Júlia (1871 – 1920) 

Francisca Júlia César da Silva Münster foi uma das poetisas brasileiras que também se dedicou à literatura infantil. 

 

Suas obras de destaque são: Mármores (1895), Livro da Infância (1899), Esfinges (1903) e Alma Infantil (1912). 

 

Rainha das águas 
a Alberto de Oliveira 

 

“Mar fora, a rir, da boca o fúlgido tesouro 
mostrando, e sacudindo a farta cabeleira, 
corta a planura ao mar, que se desdobra inteira, 
na esguia concha azul orla durada de ouro. 

 

Rema, à popa, um tritão de escâmeo dorso louro; 
vão à frente os delfins; e, marchando em fileira, 
das ondas a seguir a luminosa esteira, 
vão cantando, a compasso, as piérides em coro. 

 

Crespas, cantando em torno, as vagas, em surdina, 
lambem de popa à proa o casco da varina 
que prossegue, mar fora, a infinda rota, ufana… 

 

e, no alto, o louro sol, que assoma, entre desmaios, 
saúda esse outro sol de coruscantes raios 
que orna a cabeça real da bela soberana.” 

 

Vicente de Carvalho 

Vicente Augusto de Carvalho foi advogado, jornalista, político, fazendeiro, magistrado, contista e poeta. 

 

Suas obras de destaque são: Ardentias (1885), Relicário (1888), Rosa, Rosa de Amor (1902), Poemas e Canções (1908), Versos da Mocidade (1909), Páginas Soltas (1911) e A Voz dos Sinos (1916). 

 

A FLOR E A FONTE 
“Deixa-me, fonte!” Dizia 
A flor, tonta de terror. 
E a fonte, sonora e fria 
Cantava, levando a flor. 

 

“Deixa-me, deixa-me, fonte!” 
Dizia a flor a chorar: 
“Eu fui nascida no monte… 
Não me leves para o mar.” 

 

E a fonte, rápida e fria, 
Com um sussurro zombador, 
Por sobre a areia corria, 

 

Corria levando a flor. 
“Ai, balanços do meu galho, 
Balanços do berço meu; 

 

Ai, claras gotas de orvalho 
Caídas do azul do céu!…” 
Chorava a flor, e gemia, 

 

Branca, branca de terror. 
E a fonte, sonora e fria, 
Rolava, levando a flor. 

 

“Adeus, sombra das ramadas, 
Cantigas do rouxinol; 
Ai, festa das madrugadas, 
Doçuras do pôr do sol; 

 

Carícias das brisas leves 
Que abrem rasgões de luar… 
Fonte, fonte, não me leves, 
Não me leves para o mar!” 

 

As correntezas da vida 
E os restos do meu amor 
Resvalam numa descida 
Como a da fonte e da flor..

 

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