A LITERATURA DE CORDEL - Literatura de Cordel

Destaca-se nos estados de Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Pará, Rio Grande do Norte e Ceará. 

A literatura de cordel ganhou mais força entre os anos de 1930 e 1960, influenciando escritores renomados como João Cabral de Melo Neto, Ariano Suassuna, e Guimarães Rosa. 

A Origem do Cordel 

A palavra “Cordel” é de origem portuguesa e este tipo de manifestação literária foi introduzida no Brasil no final do século XVIII. No início, os artistas vendiam seus trabalhos em feiras, mas, com o tempo, sua popularidade diminuiu. 

 

Características do Cordel 

A oralidade é uma das principais características do Cordel, além da valorização de elementos regionais da cultura brasileira. Dessa forma, tem como função divertir e ao mesmo tempo informar os leitores. 
Os textos são apresentados em folhetos, ou seja, pequenos livros com capas feitas em xilogravuras. Essas obras são penduradas em barbantes ou cordas, e daí surge seu nome. Nessa literatura, geralmente os próprios autores realizam a divulgação de suas obras. 
Outra característica importante é a estrutura em versos. Além disso, apresenta o humor, a ironia e o sarcasmo. Também são baratos e por isso atingem um grande público e isso acaba sendo um incentivo à leitura; 
Os temas são os mais diversos: folclore brasileiro, religiosos, profanos, políticos, episódios históricos e realidade social. É bastante comum também, que seja contada a história de alguém, como em uma biografia. 
Suas histórias têm como ponto central uma problemática que deve ser resolvida com a inteligência e astúcia do personagem. No final da história, o herói sempre sai ganhando, caso ele não consiga realmente o que queria, há outra forma de equilibrar a história e fazer com que ele seja favorecido de alguma forma. 

 

Literatura de Cordel e Repente 

A Literatura de Cordel e o Repente são manifestações diferentes. O Repente é uma produção feita pelos repentistas, de improviso. Geralmente, eles são acompanhados por instrumentos musicais. 
O Cordel é feito pelos cordelistas e suas obras são vendidas para o público pelos próprios artistas. 

Alguns dos Cordelistas mais conhecidos: 

Apolônio Alves dos Santos 
Nasceu em Guarabira, Paraíba, em 1926 e começou a escrever seus folhetos aos 20 anos. Sua primeira obra foi o cordel “Maria Cara de Pau e o Príncipe Gregoriano”. Faleceu em 1998. 

 

Cego Aderaldo 
Aderaldo Ferreira, conhecido como Cego Aderaldo, nasceu em 1878 na cidade de Crato, no Ceará, e sempre foi inspirado pelo sertão nordestino. Aos cinco anos começou a trabalhar, pois seu pai adoeceu e não conseguia sustentar a família. Aos 18 anos trabalhava como maquinista na Estrada de Ferro de Baturité, e perdeu sua visão depois de uma forte dor nos olhos. 
Pobre e cego, teve um sonho em verso e descobriu seu dom para cantar e improvisar. Ganhou uma viola a qual aprendeu a tocar. 

João Martins de Athayde 
Nasceu em 1877, em Cachoeira da Cebola, Paraíba, foi o principal editor da literatura brasileira de cordel.
Um dos mais importantes cordelistas do Brasil, Athayde tornou-se um verdadeiro ídolo popular, conhecido em todas as classes sociais. 

 

Leandro Gomes de Barros 
É considerado o primeiro escritor brasileiro de cordel. Ainda é considerado um grande poeta popular do Brasil, autor de vários clássicos, campeão de vendas, com folhetos que ultrapassam milhões de exemplares vendidos. 

Principais obras da Literatura de Cordel 

1 – Cordel (Patativa de Assaré); 
2 – Sertão alumiado pelo fogo do cordel encantado (Ana Paula Campos Lima); 
3 – Histórias e lendas do Brasil – contos nordestinos (Tia Regina); 
4 – Antologia da literatura de cordel (Sebastião Nunes Batista); 
5 – A pedra do meio-dia ou Arthur e Isadora (Bráulio Tavares); 
6 – O príncipe e a fada (Manoel Pereira Sobrinho); 
7 – O flautista misterioso e os ratos de hamelin (Bráulio Tavares); 
8 – Canudos na literatura de cordel (José Calasans); 
9 – Lampião, o capitão do cangaço (Gonçalo Ferreira da Silva); 
10 – Pavão misterioso (José Camelo de Melo Resende); 

Alguns exemplos de Cordéis: 

“Ostentava na cabeça Um grande chapéu de couro, O seu pescoço era ornado Com um lindo colar de ouro. Se lia no rosto dele: “Não suporto desaforo. ”
“Para quem não compreende Me disponho a explicar O problema do racismo Que a tudo quer mudar O cabelo é o primeiro E também o derradeiro Que o racismo quer barrar. ” 
Cego Aderaldo 

 

Ave-Maria da Eleição (Leandro Gomes de Barros) 
No dia da eleição O povo todo corria Gritava a oposição Ave Maria. 
Via-se grupos de gente Vendendo votos nas praças E a arma dos governos, [a urna do governo] Cheia de graça. 
Uns a outros perguntavam O Sr. Vota conosco Um chaleira respondia Este é convosco. 
Eu via duas panelas Com miudo de 10 bois Cumprimentei-a dizendo Bendita sois. 
Os eleitores com medo Das espadas dos alferes Chegavam a se esconderem Entre as mulheres. 
Os candidatos chegavam Com um ameaço bruto Pois um voto para eles E’ benditos frutos. 
O mesário do governo Pegava a urna contente E dizia eu me gloreio Do teu ventre. 
A oposição gritava De nós não ganha ninguém Respondia os do governo Amém. 

 

Cordel de Bráulio Bessa 
Sendo eu, um aprendiz  A vida já me ensinou que besta  É quem vive triste Lembrando o que faltou  Magoando a cicatriz  E esquece de ser feliz  Por tudo que conquistou  Afinal, nem toda lágrima é dor  Nem toda graça é sorriso  Nem toda curva da vida  Tem uma placa de aviso  E nem sempre o que você perde  É de fato um prejuízo  O meu ou o seu caminho  Não são muito diferentes  Tem espinho, pedra, buraco  Pra mode atrasar a gente  Mas não desanime por nada  Pois até uma topada  Empurra você pra frente  Tantas vezes parece que é o fim  Mas no fundo, é só um recomeço  Afinal, pra poder se levantar É preciso sofrer algum tropeço  É a vida insistindo em nos cobrar  Uma conta difícil de pagar  Quase sempre, por ter um alto preço  Acredite no poder da palavra desistir  Tire o D, coloque o R  Que você tem Resistir  Uma pequena mudança  Às vezes traz esperança  E faz a gente seguir  Continue sendo forte  Tenha fé no Criador  Fé também em você mesmo  Não tenha medo da dor  Siga em frente a caminhada  E saiba que a cruz mais pesada  O filho de Deus carregou. 

 

O poeta da roça Autor: Patativa do Assaré 
Sou fio das mata, cantô da mão grossa, Trabáio na roça, de inverno e de estio. A minha choupana é tapada de barro, Só fumo cigarro de páia de mío. Sou poeta das brenha, não faço o papé De argum menestré, ou errante cantô Que veve vagando, com sua viola, Cantando, pachola, à percura de amô. Não tenho sabença, pois nunca estudei, Apenas eu sei o meu nome assiná. Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre, E o fio do pobre não pode estudá. Meu verso rastêro, singelo e sem graça, Não entra na praça, no rico salão, Meu verso só entra no campo e na roça Nas pobre paioça, da serra ao sertão. Só canto o buliço da vida apertada, Da lida pesada, das roça e dos eito. E às vez, recordando a feliz mocidade, Canto uma sodade que mora em meu peito. Eu canto o cabôco com suas caçada, Nas noite assombrada que tudo apavora, Por dentro da mata, com tanta corage Topando as visage chamada caipora. Eu canto o vaquêro vestido de côro, Brigando com o tôro no mato fechado, Que pega na ponta do brabo novio, Ganhando lugio do dono do gado. Eu canto o mendigo de sujo farrapo, Coberto de trapo e mochila na mão, Que chora pedindo o socorro dos home, E tomba de fome, sem casa e sem pão. E assim, sem cobiça dos cofre luzente, Eu vivo contente e feliz com a sorte, Morando no campo, sem vê a cidade, Cantando as verdade das coisa do Norte. 

 

Ai! Se sêsse!…Autor: Zé da Luz 
Se um dia nós se gostasse; Se um dia nós se queresse; Se nós dois se impariásse, Se juntinho nós dois vivesse! Se juntinho nós dois morasse Se juntinho nós dois drumisse; Se juntinho nós dois morresse! Se pro céu nós assubisse? Mas porém, se acontecesse qui São Pêdo não abriss eas portas do céu e fosse,te dizê quarqué toulíce? E se eu me arriminasse e tu cum insistisse, prá qui eu me arrezorvesse e a minha faca puxasse, e o buxo do céu furasse?…Tarvez qui nós dois ficasse tarvez qui nós dois caísse e o céu furado arriasse e as virge tôdas fugisse!!!

 

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